quinta-feira, 24 de junho de 2010

Academia Olympia

Texto de António Amorim da Costa, químico da Universidade de Coimbra.

“Sem que nos seus tempos de escola tenha sido um mau aluno, como alguns dos seus biógrafos pretendem fazer crer, Einstein não foi um aluno particularmente distinto, embora tenha sido sempre um aluno particularmente distinto, embora tenha sido sempre um aluno brilhante em Matemáticas. Na Escola Politécnica de Zurique frequentava pouco as aulas. Preferia estudar por sua conta própria a matéria que nelas era dada, servindo-se para o efeito de apontamentos tirados pelo seu condiscípulo Marcel Grossman, esse mesmo que viria, mais tarde, a assisti-lo no desenvolvimento do formalismo matemático da Teoria da Relatividade Geral.

Em vez de seguir as matérias de Física e de Matemática leccionadas na sua Escola Politécnica, ele preferia ler os principais alunos destas disciplinas lendo directamente, como autodidacta, as obras originais de Maxwell, Kirshoff, Boltzman e Hertz. Terminado o Curso, não continuou na Escola Politécnica onde se formou, em virtude de certas ‘irreverências’; graças ao seu amigo Marcel Grossmann, em 1902, foi contratado como perito técnico de segunda classe na repartição de patentes de Berna.

Nos primeiros três meses da sua estadia nesta cidade, resolveu dar aulas particulares a três francos por hora. Foi aqui que conheceu Maurice Slovine, um estudante romeno apaixonado pela Física, com quem passou a discutir apaixonadamente os mais diversos assuntos científicos. Em breve, aos dois se juntou Conrad Habid, um estudante de matemática. O trio passou a reunir-se regularmente depois das horas de trabalho diário para estudar e discutir em conjunto os trabalhos de Hume e Espinosa, e também as obras de Mach, Ampère e Henri Poincaré, Racine e Dickens. Uma simples passagem de alguns destes autores poderia tornar-se para eles, frequentemente, tema de discussão acesa para vários dias. Poucos depois, juntou-se ao grupo o italiano Ângelo Besso. O grupo assim formado foi por eles próprios auto-denominados Academia Olympia. Foi nela que germinaram esses trabalhos fundamentais da Física contemporânea publicados por Einstein em 1905 e que teriam continuação nos anos seguintes. Dois anos depois da sua morte, em 1935, Einstein, em carta a M. Slovine, referia-se a essa Academia nos seguintes termos:

“À imortal Academia Olympia: Na tua curta existência activa, deleitaste-te com uma alegria fácil. Os teus membros criaram-te para se divertirem à custa das suas irmãs mais velhas, inchadas de vaidade. (…) Para a minha felicidade e a minha dedicação até ao último e muito corajoso sopro.”

Nela se estudavam os grandes clássicos da Física e da Matemática. Em nossos dias, quantos alunos, e mesmo professores, incluindo os mais doutos, se preocuparam algum dia em folhear essas obras? Nada há como beber directamente nas fontes cristalinas da verdadeira sabedoria por mais difícil que possa ser a sua leitura directa! Quantos dos mais sábios e distintos Físicos, Químicos ou Matemáticos dos nossos dias alguma vez se deram ao trabalho de ler directamente as obras de Newton, Coulomb, Helmotz, Boltzmann, Joule, Carnot, Bohr, ou Scrhodinger, para não falar de muitos outros clássicos da ciência contemporânea?

E que paixão há, entre os homens das Ciências exactas pelos filósofos, antigos e modernos? Quantos se interessaram algum dia por Hume, Descartes, Espinosa, Leibniz, Kant ou Hegel, para além da meia dúzia de frases quase estereotipadas dos Manuais de Filosofia da Escola Secundária?”

Nota: Texto antes publicado no Diário As Beiras e recentemente republicado no livro Ciência e Mito, da Imprensa da Universidade de Coimbra.

2 comentários:

siceramente disse...

Na escola ensinam a decorar, imagine o que seria ler tantos autores. As notas desceriam drasticamente!

Anónimo disse...

Diego Silva Lemelle

Eu tinha esse sonho de refundar a acadêmica Olympia...e o fiz, criando este grupo aplicativo no facebook...vcs podem participar tbm

http://www.facebook.com/home.php?sk=group_124969257575975

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