sexta-feira, 30 de abril de 2010

PÂNICO NO CLIMA EUROPEU


Minha crónica no "Sol" de hoje (na imagem um dos balões dos irmãos Montgolfier):

A recente crise atmosférica com origem no vulcão de Eyjafjallajökull, no Sul da Islândia, e que lançou o caos nos aeroportos da Europa esteve longe, bem longe, de ser a mais grave das crises do mesmo tipo na Europa. De Junho de 1783 a Fevereiro de 1784 a erupção de um vulcão com um nome mais simples de pronunciar, Laki, a cerca de 140 km do primeiro, originou um nevoeiro seco por todo o continente europeu, de Lisboa a Moscovo. O fenómeno foi mesmo reportado no Rio de Janeiro por um astrónomo português, Bento Sanches Dorta.

O livro “Terra. Acontecimentos que mudaram o mundo”, de Richard Hamblyn, acabado de sair na Bertrand Editora, dedica todo um capítulo ao evento com o título “Pânico no clima da Europa, 1783”. Os efeitos das cinzas lançadas pelo vulcão foram avassaladores, com um Verão de tal forma encoberto que se podia olhar directamente para o Sol sem prejudicar a vista e um Inverno que foi dos mais frios da história: as cinzas vulcânicas causaram um arrefecimento global, contrariando o conhecido efeito de estufa, uma vez que elas impediam não só a luz como o calor do Sol de chegar à superfície terrestre. O cheiro sulfuroso sentia-se em Paris e noutras cidades europeias. O pânico foi generalizado. Há quem opine que teria sido por causa dos prejuízos causados na agricultura em França, que, passado meia dúzia de anos, se deu a Revolução Francesa...

Na Islândia, devido, directa ou indirectamente, à erupção do Laki, que causou o maior fluxo de lava de sempre, morreram cerca de dez mil pessoas, quase um quarto da população, um vlor que só fica atrás do número de vítimas do Vesúvio, no ano 79 depois de Cristo, no cômputo de todas os fenómenos vulcânicos havidos na Europa. A Dinamarca, que administrava a Islândia, chegou mesmo a pôr a hipótese de abandonar a ilha.

O primeiro cientista a relacionar o clima anormal na Europa com o vulcão na Islândia foi Benjamin Franklin, o inventor do pára-raios, na altura embaixador americano em França, com residência perto de Paris. Tornou-se assim pioneiro dos estudos sobre a relação entre poluição atmosférica e alterações climáticas. Não podia na época haver perturbação da aviação devido à perturbação atmosférica pela simples razão de que ainda não havia aviões. Mas foi nesse mesmo ano que ocorreram as famosas experiências francesas de ascensão em balão, de que o Padre Bartolomeu de Gusmão tinha sido pioneiro muitos anos antes. A 4 de Junho de 1783, os irmãos Montgolfier efectuaram, em Annonay, no Sul de França, uma primeira exibição pública do seu balão, à qual, em 21 de Novembro, em Paris, se seguiu o primeiro voo tripulado, presenciado por Franklin. O nevoeiro que toldava o Velho Continente não impediu o vasto público de ver esses engenhos subirem no céu...

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito bom artigo, estudo muito interessante sem dúvida!
Um tipo de artigo que ajuda a descomprimir antes do trabalho... e que faz voar a imaginação;)

Venho ainda perguntar se me pdoeriam dizer onde posso comprar o jornal As artes entre as letras na cidade de Lisboa, onde resido, embora seja natural da Invicta...

Obrigada e felicidades.

NOVA ATLÂNTIDA

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