segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Que validade científica tem o "mindfulness"? - 1

O mindfulness (ou atenção plena, ou meditação) é um tema bem instalado na investigação que se faz  sobretudo nas área das ciências psicológicas e da saúde em universidades, centros e equipas, mesmo nas mais conceituadas. Vê-se destacado em publicações académicas (livros e revistas são-lhe inteiramente dedicados) e em encontros científicos.

Em pouco tempo infiltrou-se nos sistemas educativos: está presente em todos os seus níveis e sectores, desde a educação de infância ao ensino superior, desde o trabalho com os alunos até à formação de professores. O nosso sistema educativo não é excepção.

Estamos, portanto, a falar de entidades sérias (deixo de lado as de carácter mais ou menos exótico). Não obstante, prevalece a ideia de que o mindfulness é inequivocamente benéfico nas mais diversas e complexas situações pessoais e relacionais.

Mas, será mesmo assim?

Começam a surgir estudos que, recorrendo sobretudo à metodologia de meta-análise, procuram responder a esta pergunta. É o caso de um estudo publicado já neste mês, na revista Scientific Reports, intitulado The limited prosocial effects of meditation: A systematic review and meta-analysis, do qual se deixa, de seguida, o seu resumo:
"Muitas pessoas acreditam que a meditação tem efeitos positivos não só em casos de doença mental mas também pró-sociabilidade. O estudo dá conta de uma meta-análise que incidiu nos efeitos de intervenções baseadas na meditação na pró-sociabilidade. Isto em ensaios clínicos aleatórios com adultos saudáveis. Foram identificados cinco tipos de comportamentos sociais: compaixão, empatia, agressão, conexão e preconceito. Embora se verifique uma melhoria moderada da pró-sociabilidade após a meditação mas análises adicionais indicaram que esse efeito é influenciado por dois factores: tipo de pró-sociabilidade e qualidade da metodologia. As intervenções de meditação tiveram efeito na compaixão e na empatia mas não na agressão, conexão ou preconceito. Além disso, os níveis de compaixão só aumentaram em duas condições: quando quem faz a intervenção é co-autor do estudo publicado; e quando o estudo integra um grupo de controle passivo (lista de espera), mas não um activo. Contrariamente às crenças populares de que a meditação levará a mudanças pró-sociais, os resultados desta meta-análise mostraram que os efeitos da meditação sobre a pró-sociabilidade dependem do tipo de pró-sociabilidade considerada e da metodologia usada. Destaca-se, por fim, uma série de enviesamentos e problemas teóricos que precisam ser encarados para melhorar a qualidade da pesquisa nessa área".
Este texto continua aqui.

4 comentários:

Anónimo disse...

Obviamente, grande parte da população são pessoas com uma sensibilidade muito precária. O problema não é a agressão, técnicas de relaxamento dinâmico nunca são remédio para toda uma população, porque no meio há o problema da consciência.

Anónimo disse...

Encerrar, à força, 20 ou 30 adolescentes, carregados de hormonas sexuais, numa sala fechada, e obrigá-los a aprender o BIG BANG, ou meditação transcendental, não é tarefa fácil. A experiência quotidiana ensina-nos que essa história de que, no início, somos todos bons selvagens, e depois a sociedade é que nos corrompe, é falsa!
Para começar, fechem bem as portas das prisões e abram, de par em par, as portas das escolas!

Graça Sampaio disse...

Essa sua última frase (e não só) é espetacular!! Muito bem!

Anónimo disse...

Ex.ma Sr.a Doutora D.a Graça Sampaio,

Fiquei muito tocado com as suas inebriantes palavras!
Só nós, os que lutamos incansavelmente por uma escola com professores, e de portas abertas para quem quer aprender, sabemos de quanto apoio moral precisamos para levar de vencida os barrigudos bens instalados na corte, em Lisboa, apenas preocupados com o sucesso escolar estatístico e vazio!
Assim seja!

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