segunda-feira, 9 de outubro de 2017

"O ocaso das mentes"


Na era da globalização, também os problemas educativos são iguais em toda a parte.

A falta de leituras, as dificuldades de expressão, escrita e oral, caracterizam toda uma geração de jovens da actualidade seja em que parte do mundo for.

O título — O ocaso das mentes — é de um artigo publicado num jornal do Panamá e que pode ser lido aqui.

A autora, Amarilis A.Montero G., professora numa Faculdade de Humanidades, recorda um episódio dos seus tempos de estudante em que um colega se mostrou muito admirado por ela estar a ler um livro “que não era para o exame”, e explica:

“Lia porque queria saber, conhecer mais através de uma história e das suas personagens. A minha razão para ler era para abrir a mente e explorar outros mundos e outros pensamentos e experiências que só podia alcançar através da leitura”

Agora, como professora, comenta que se nota “uma escassez de mentes que sejam capazes de discernir, de analisar, sintetizar, interiorizar e aplicar os ensinamentos de um material escrito”, por isso se interroga “Estamos acabando com as mentes da nossa juventude?”, e continua:

“Há um tempo comprovei também que estamos a graduar estudantes de escolas secundárias com precárias habilidades na leitura compreensiva. Muitos têm de pedir a outros que lhes expliquem o que estão a ler. E se o assunto é sério na leitura, na escrita nem se fala. As escolas não estão a preparar os nossos estudantes, nem a ler, nem a escrever. ... Li correios electrónicos de estudantes quase a acabar o curso universitário com uma grande quantidade de erros ortográficos, sintácticos e de pensamento lógico.”

Podem ser apontados vários factores para esta situação, mas a realidade mostra que algo tem de ser feito para inverter esta tendência.

Coloca-se, de novo, em questão a importância das Humanidades e a forma como elas foram relegadas, quase votadas ao ostracismo nesta sociedade voltada essencialmente para o lucro imediato, com sistemas educativos que só olham para o “mercado” empresarial, preocupando-se apenas com a formação técnica dos seus estudantes.

Por isso, a autora do artigo questiona:

“No meio de tudo isto, onde fica o ser humano?”

“Temos que resgatar o pensamento crítico, a reflexão e a compreensão de si mesmo e dos demais. ... Nem tudo é dinheiro, riquezas, ganâncias, betão e aço. Acima de tudo isso está o ser humano pensante e crítico, que busca o seu bem-estar e o dos seus semelhantes. Não deixemos que os nossos jovens sucumbam perante os despesismos que saturam este mundo hostil e complexo. Não deixemos que morram as nossas mentes.”


2 comentários:

Carlos Ricardo Soares disse...

Houve tempos em que ter uma espada e um cavalo e estar integrado numa formação guerreira com seu castelo era o máximo.
Nem era preciso saber ler, escrever, contar, nem saber história ou geografia...bastava uma religião e ter um inimigo (ou, na falta deste, um adversário) para ter de responder a todas as questões (que nem era preciso colocar)...
Atualmente, as estratégias de sobrevivência, de reconhecimento e de promoção social são imensas e contraditórias, até porque, muitas delas são uma fuga/fobia/rejeição desse social, ainda tão fortemente hierarquizado relativamente ao "fundamento", ou à "legitimação", seja de Deus, dos deuses, da lei... que a todo o custo se procura cristalizar em instituições e em estereótipos, tanto mais pretensiosos quanto mais formais e estilizados, mercantis, manipuladores e tanto mais reprodutores quanto mais efémeros.
A maior dificuldade para quem quer ler ou escrever e refletir está na dificuldade de desligar das "urgências" e das "obrigações" e das "prioridades"... Muitos de nós fomos educados (acicatados), desde cedo, para trabalhar e ganhar, com "castigos" para a brincadeira e a vadiagem, nem que fossem prodigiosos feitos de descoberta e aventura, que mais tarde representam mais que tudo o resto. Existe muita culpabilidade incutida, muito sentimento de culpa, quando "perdemos" tempo a ler algo que não interesse ao nosso trabalho e rendimento.
Por exemplo, ninguém se põe a ler os Evangelhos quando sente que é inadiável estudar para um exame de que depende a progressão na carreira.
E nem todas as pessoas se sentem encorajadas a perder comboios e a regressar aos seus pensamentos...

Anónimo disse...

Parece-me incontestável que o mundo atravessa uma fase de viragem cultural e civilizacional.
No mundo cristão, a Grande Leitura até ao século XVIII, pelo menos, foram os Santos Evangelhos, que eram em grande parte interpretados à luz de uma filosofia de inspiração aristotélica. Mas, com o advento das ciências experimentais, a parte da filosofia grega incorporada pelo cristianismo sofreu um rude golpe de que não se pode dizer que tenha recuperado até aos dias de hoje. A própria organização religiosa, que se estendia por toda a Terra, cujos alicerces eram as Sagradas Escrituras, já não tem o grande poder político e espiritual de que nos falam os livros de história.
Assim, a Bíblia vai deixando de ser O Livro porque atualmente já poucos a leem. A Ciência também não chega para nos preencher porque é incapaz de nos dizer o que é O BEM e o que é O MAL.
Como agora nos sentimos encalacrados, abandonámos os livros clássicos e virámo-nos para as redes sociais onde normalmente os textos e as leituras são curtos demais! A solução não pode se apenas a internet!
Convém não esquecer que a grande ciência (de Galileu, Newton, Einstein e muitos mais) também nos trouxe as bombas nucleares!
Com o engenheiro Guterres à frente dos destinos do mundo, tenhamos esperança de que surjam novos escritores com belas ideias que nos indiquem caminhos novos , longe de armas nucleares e convencionais, e que mereçam ser lidos nas escolas do futuro. Porém, eu nunca me conformarei com uma eventual saída de Eça de Queirós dos currículos!

João Silva

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