quinta-feira, 19 de outubro de 2017

MÊS DA EDUCAÇÃO E DA CIÊNCIA 2017

A Fundação Francisco Manuel dos Santos realiza desde 2014 o Mês da Educação em Outubro e desde 2015 o Mês da Ciência, em Novembro, por considerar que tanto a educação como a ciência são as bases do desenvolvimento económico, social e cultural. Este ano haverá «um mês que são dois», reunindo no mesmo programa a Educação e a Ciência.

Por quê juntar Educação e Ciência num só mês? Por um lado, para reforçar a visibilidade dos projectos e actividades da Fundação em Educação e Ciência. Por outro, e principalmente, porque a Educação e Ciência, entendida esta como criação do conhecimento, são duas áreas indissociáveis. A Educação que se destina a formar e capacitar as crianças e os jovens para a vida activa, transmitindo-lhes o melhor da herança da humanidade, inclui naturalmente a Ciência por esta ser uma das parcelas mais relevantes dessa herança. E a Ciência só pode ser desenvolvida bem assente na Educação, pois só pessoas que conheçam bem o legado das descobertas anteriores podem tentar, aventurando-se nas fronteiras do conhecimento, encontrar o que é novo. A Ciência informa a Educação e a Educação possibilita a Ciência. No Ensino Superior, Educação e Ciência estão de mãos dadas, uma vez que quer nas universidades quer nos politécnicos dificilmente será possível um bom ensino ao mais alto nível por quem não conheça o método científico. Só pode transmitir o verdadeiro conhecimento quem
estiver próximo da sua criação, pois esse conhecimento envolve a dúvida e a crítica em vez da repetição passiva. Em todo o mundo, os países com sistemas científicos mais fortes são também aqueles que têm sistemas de Ensino Superior mais fortes. E, uma vez que o Ensino Superior forma os professores dos ensinos básico e secundário, é directa a sua influência nos outros graus de ensino, contribuindo para um forte sistema educativo em geral.

Em Portugal a Educação e a Ciência têm crescido a olhos vistos nas últimas quatro décadas. O crescimento do sistema educativo superior neste período foi acompanhado, como era de esperar, pelo crescimento do sistema científico. De resto, uma das causas, senão mesmo a causa principal, para o atraso científico português de que agora estamos a recuperar é o atraso educativo. Se apenas uma parte da população tinha acesso aos ensinos básicos e secundário e depois só uma parte mais pequena
ao ensino superior, não podia haver um corpo de investigadores que sustentassem a Ciência. Hoje, felizmente, o país está a dar habilitação superior a mais cidadãos e, apesar de algumas hesitações num passado recente, está a apostar na Ciência. Estamos, porém, ainda longe dos índices nestes domínios dos países mais desenvolvidos, designadamente os mais ricos da comunidade à escala europeia em que estamos integrados.

É elucidativo olhar para a PORDATA para perceber melhor o nosso lugar da Educação. Na população em idade activa, entre os 25 e 64 anos, só há 47% de cidadãos que completaram pelo memos o ensino secundário (o penúltimo lugar na União Europeia, logo antes de Malta) e só há 24% com um grau de ensino superior. Para comparação, as médias dos países da União Europeia para estes dois índices são, respectivamente, 77% e 31%. A Lituânia tem 95% da sua população activa habilitada com pelo menos o ensino secundário e a Finlândia tem 43% da sua população com um grau do ensino superior. Há variados problemas em Portugal, mas a falta de suficiente qualificação da população é decerto o principal por estar na base de muitos outros. Há aqui um longo caminho a percorrer.

Por outro lado, se olharmos para a Ciência, apesar dos avanços recentes, designadamente no sector público, o investimento em Ciência ainda é de apenas 1,3% do PIB, quando a média na União Europeia é 2,0% e, no topo, a Suécia, investe 3,3%. Há aqui, como na Educação, um caminho a percorrer com vista ao desenvolvimento.

O Mês da Educação e da Ciência, trazendo ao debate de um modo cruzado a Ciência e a Educação e juntando temas tão variados e interessantes como os resultados do PISA, o papel das humanidades, o cérebro adolescente, a relevância dos exames, as vantagens do Ensino Superior, o diagnóstico da Ciência em Portugal, o futuro da Ciência no mundo, e a diáspora da Ciência portuguesa, propõe-se contribuir para a melhor consciência dos nossos problemas na Educação e Ciência e também, desejavelmente, para encontrar soluções colectivas para os resolver.

Seja bem-vindo ao debate, contribua para ele!

Carlos Fiolhais

Comissário do Mês da Educação e da Ciência – 2017

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