terça-feira, 13 de janeiro de 2015

GOVERNO EM CAMPANHA DE LAVAGEM DE IMAGEM NA CIÊNCIA


Noticia hoje o PÚBLICO que o "Governo quer transferir 1220 investigadores do Estado para as empresas". A ideia de transferência do Estado para as empresas, tão ao gosto dos mantras neo-liberais, é pateta. O programa visa subsidiar os salários de doutorados durante três anos. Não só não irá "transferir" nenhum investigador com vínculo "do Estado para para as empresas", como será o "Estado" a pagar boa parte dos salários no privado.

A ideia não é nova, em Portugal há incentivos à contratação de doutorados desde há mais de 10 anos, com um sucesso limitado, tal como diagnostica o governo. Por falta de vocação das empresas, de vontade dos académicos ou ambos os anteriores. As bolsas de doutoramento em empresas também têm uma implantação limitada (o que não é razão para desistir delas).

O apoio à contratação de 1220 doutorados durante três anos até 2020 é uma medida potencialmente positiva (depende da implementação) mas que não será nenhum milagre. 66 milhões de euros durante cinco anos não é muito dinheiro. É menos do que custaram os estudos do TGV por ano, durante 11 anos.

Mas este tipo de programas só faz sentido com uma aposta forte na investigação fundamental. O desinvestimento na investigação fundamental esvazia a origem de todas as aplicações, que é o conhecimento. A aplicação é uma escada que se põe em cima de uma montanha. E a montanha é a investigação fundamental. 

Um governo que quer destruir metade das unidades de investigação em Portugal, usando como expediente um processo de avaliação absolutamente viciado, que fez cortes brutais nas bolsas de investigação científica, vem agora apresentar a solução milagrosa, na linha da ideia várias vezes repetida que os investigadores não fazem nada que interesse ao país. Só que o desenvolvimento da ciência e da inovação não se faz com milagres nem a arrepiar caminho, destruindo metade da ciência em Portugal, como o governo PSD/CDS tem feito nos últimos anos. 

Sim, pode ser positivo. Mas e o resto?

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