segunda-feira, 25 de novembro de 2013

A Última Pressão dos Reitores

Na edição do Expresso de 23 Novembro 2013, surge um artigo a página inteira com este mesmo título. Nele são apresentados uma série de argumentos dando conta da situação crítica das Universidades em consequência dos fortíssimos cortes de financiamento público. A suportar estes argumentos, surge um gráfico que mostra a evolução do número de alunos inscritos nas universidades, versus o financiamento recebido do orçamento do Estado. A fonte deste gráfico é o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP).

Os números apresentados neste gráfico mostram que o número de alunos inscritos nas universidades passou de cerca de 170 000 em 2005 para quase 200 000 em 2012, e que o financiamento público passou de cerca de 750 milhões de euros para cerca de 530 milhões no mesmo período. Estes números estão simplesmente errados e as conclusões que possam ser daí tiradas carecem de qualquer suporte.

É lamentável que o Conselho de Reitores, que devia dar o exemplo de rigor, distorça os números para apresentar uma realidade que lhe dê jeito. É ainda lamentável que os autores deste artigo não tenham verificado estes números a partir de fontes mais   fidedignas que a das partes interessadas - não havendo desculpa para isso porque essas fontes existem: o Eurostat e o GPEARI (actualmente DGEEC).  Mesmo desconhecendo estas fontes, podiam recorrer à Pordata, que tem a vantagem de apresentar estes dados num formato legível para toda a gente.

E quais são os números correctos? Segundo o Pordata, o número de alunos inscritos na universidades portuguesas passou de aproximadamente 240 mil em 2005 para 253 mil em 2012 (um aumento percentual de 5% e não de 15%). Quanto ao financiamento, este passou de 425 milhões de euros em 2005 para cerca de 730 milhões em 2012 (um aumento de 72%).

Visto em maior retrospectiva, o investimento público no Ensino Superior, como um todo, aumentou quase 3 vezes em percentagem do PIB: de 0.2% em 1995 para 0.6% em 2010 (cerca de mil milhões de euros).

Em vez de virem para os jornais para fazer chantagem com base em números falsos, os reitores das universidades deviam preocupar-se em mostrar os resultados dos investimentos do dinheiro dos contribuintes e dos alunos que lhes pagam as propinas. Deviam explicar porque razão as nossas universidades têm posições modestas ou medíocres no ranking internacional, porque razão não colaboram com o sector privado, porque razão o número de patentes e de startups que saem das suas portas é tão baixo, porque razão estão a ministrar cursos cujas saídas profissionais é o desemprego?

Acho bem que esta seja a última pressão dos reitores que o país já se cansou de os ouvir.

8 comentários:

Anónimo disse...

Estou de acordo consigo no último paragrafo!
As universidades a grosso modo, têm gasto dinheiro em projectos e noutras coisas cujo retorno não é muito certo para a comunidade, fecham-se em copas sobre os resultados desse projecto, muito o género da fct, financiamos um projecto, colocamos bolseiros, o projecto terminou, conclusões ninguém sabe, aceder aos dados não se pode, só se houver amigos dos amigos mas o dinheiro gastou-se e o retorno?

Há anos que os reitores deviam ter pressionado o governo para alterar o esquema de financiamento que sabemos que é por cabeça, ora a universidade para ganhar mais dinheiro abre mais cursos, ao abrir mais cursos mete mais alunos, mais alunos dá + despesa, mais despesa dá mais verba por um lado mas mais despesa à casa por outro, no fim o balanço é sempre negativo e os cursos que abrem à maluca não têm saída.

Sou a favor da manutenção de todas as áreas e cursos, mas precisava-mos nós de um curso de engenharia civil por cada esquina, de um curso de arquitectura por cada universidade, de uma licenciatura de psicologia ou sociologia por cada instituição? De apoio social ou lá como se chama por cada politécnico? de História por cada faculdade de ciências sociais e humanas? Ainda para mais quando cada um tem vagas de 50 ou mais alunos? E no fim onde colocam as centenas de pessoas formadas por ano a trabalhar? como pode o país absorver esta gente?? Como se justifica que o país está a gastar em média 3000 euros por cabeça e as famílias mil (só em propinas) por ano e ao fim de 3 anos não serve para nada? É para engordar os holandeses, alemães e filandeses com mao de obra formada quase a custo zero??

Tiago Santos disse...

O senhor está enganado e devia retratar-se imediatamente. Provavelmente não soube ver os dados ou não soube procurá-los. Acabei de ver no site do INE que existiam exactamente 171.575 estudantes nas universidades públicas portuguesas em 2005/2006. Infelizmente a série que vi à pressa não chega a 2012, mas nem preciso de procurar mais para saber de que lado está a razão. Tenha vergonha. Tratar um assunto destes com essa baixeza é uma vergonha.

http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCod=0002739&contexto=bd&selTab=tab2

José Meireles Graça disse...

Partilhei este post no meu mural e os números foram contestados por quem tenho em boa conta, com indicação de fontes. Sem fazer processos de intenção, e muito menos objurgatórias do tipo das do comentário que antecede o meu, transcrevo o principall: Havia 311574 alunos inscritos no Ensino Superior Público e 78699 no Privado, em 2011/12, segundo a DG de Estatísticas da Educação e Ciência, que o autor do texto cita. Não sei onde é que ele vai buscar 170.000 e 200.000. http://www.dgeec.mec.pt/.../96/%7B$clientServletPath%7D/...

José Meireles Graça disse...

Já agora, a sequência de comentários está em https://www.facebook.com/jose.m.graca.9/posts/10201231917187915?comment_id=5496351&offset=0&total_comments=9&notif_t=share_comment

João Pires da Cruz disse...

Penso que haja alguma confusão no conceito de ensino superior público. Os números aqui apresentados são próximos dos números dos inscritos em licenciatura. Será isso? Realmente deverá ser desses sobre os quais os reitores devem exigir dinheiro e compreendo o post. O resto não é ensino superior público, é ensino superior pago pelos alunos, mas os números não estão, de facto correctos no que ao número de alunos diz respeito. Felizmente!

José Mesquita disse...

O CRUP representa universidades públicas e não politécnicos pelo que os reitores apenas se podiam referir àqueles que representam. Em www.dgeec.mec.pt vem que o número de alunos inscritos em universidades públicas em 2005/06 era de 171575 e em 2011/12 era de 197912 o que se traduz num aumento de 15,35%.
Não sei se o aumento de dotações acompanhou tal evolução. Duvido. Mas se, por acaso, aumentou e superou então... viva! Não deve haver razão para tanto escândalo. Ainda me lembro, nos idos de 90, quando lutávamos contra as propinas, que nos emprenharam os ouvidos com a retórica que tal serviria para aumentar a qualidade de ensino e não para despesas de funcionamento... ahahah!
Licenciatura e mestrado pós-Bolonha é em tudo idêntico à licenciatura pré-Bolonha pelo que considerar apenas as licenciaturas como alvo de financiamento do estado é inadmissível. Seria condenar todo um país.

João Pires da Cruz disse...

É isso que é considerado, pelo menos é o que observo.

Há um par de meses alguém já PhD numa área de ciências naturais me pediu opinião sobre onde poderia tirar um mestrado em Finanças. Eu respondi-lhe que em Portugal existem duas escolas de economia, uma do estado, outra privada, ele que escolhesse uma. A do estado era mais cara e recusou-o com o argumento que já é demasiado velho. A privada aceitou-o com a euforia de ter um PhD como aluno.

Os reitores não podem vir pedir dinheiro em dois carrinhos, por via do orçamento e por via da cobrança aos alunos. Até porque a ideia de Bolonha é que o mestrado seja algo para ser fazer várias vezes e ao longo da vida, deve ser objecto do investimento pessoal e profissional de cada um. Neste ponto não só concordo como me parece óbvio que as sociedades onde isto funciona assim há décadas são exactamente aquelas para onde o estado português mandava as pessoas fazer doutoramentos e mestrados.

Quanto a condenar o país... Temos um estado falido. Não sei qual o grau de urgência se deve colocar sobre este factor, mas diria que não deixaria para último. Isto se a ideia é continuar a pagar salários a partir de Fevereiro...

Anónimo disse...

Aqui a cruzada do Armado, como todos já reparamos, é contra o que é universidades públicas e afins.
Obviamente que os dados que os reitores apresentaram estão correctos e referem-se, como é normal, ao conjunto das univeridadeds pública de que eles são os representantes.
Já não há paciência para esta gente de cartilha neoliberal...


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