segunda-feira, 6 de maio de 2013

O difícil exame para se poder correr o risco do futuro

Sobre os exames, à margem de qualquer suporte científico ou institucional, recorrendo a uma reflexão comum diz Francesco Alberoni (in O optimismo. Lisboa: Bertrand, 1995, 84-85):
“A vida, na sua essência, na sua estrutura, é projecto e risco. Há sempre um momento em que ficamos suspensos à espera (...). Não compreendo os pedagogos que pretendem acabar com os exames nas escolas. O exame é parte integrante da educação. Não compreendo os pais que pretendem evitar esse stress aos filhos. Viver significa prever, calcular, dominar o stress. Só quando temos que enfrentar um exame é que nós nos apercebemos do que podíamos e devíamos ter feito. Antes tendemos a deixar-nos embalar pelas ilusões, a imaginar o mundo como nos gostaria que fosse (...). Em todas as alturas, devemos procurar adquirir sempre o estado de espírito próprio do dia que antecede a batalha, para ver se não nos enganámos em nada, se não nos esquecemos de um pormenor importante (...) Devemos reproduzir o melhor possível a realidade, a angústia da realidade, a incerteza da realidade (...). Só (...) aceitando até ao fim o difícil exame, nós podemos correr o risco do futuro.”

1 comentário:

José Batista disse...

Aos meus filhos e alunos disse sempre que a vida é um exame permanente. A que não podemos fugir. E é ilusório pensar que fugimos. Não é só um risco para o futuro. É um risco permanente e diário. É como lutar pela vida. É como lutar pela saúde.É como praticar desporto. É como fazer qualquer coisa que se faça. É, enfim, como simplesmente praticar ou lutar por qualquer noção de dignidade humana. E todos os que nos rodeiam são nossos examinadores. A todo o momento.
Agora, há que não fazer dos exames académicos instrumentos de tortura ou de terror. Nem permitir que tal se faça. Ou lutar (o necessário) para que não aconteça.

Desde há dez anos a esta parte, os exames de biologia e geologia do ensino secundário são horrivelmente mal feitos. As classificações envergonham. E não envergonham (apenas) alunos e professores. Deviam envergonhar quem elabora tais provas, e propõe tais critérios de resposta, e impõe certas classificações. E deviam também incomodar os fazedores dos programas em vigor, particularmente o de biologia de 10º ano, quer pela obra que produziram, uma vergonha!, quer pela desconformidade do que é estipulado nos programas face ao que é pedido nos exames.
Enfim, e nada muda ou pouco parece mudar...
Mas "deitar fora os meninos com a água do banho", isso é que não seria boa política.

Daqui por mais dois meses falarei sobre isto (ainda) de modo mais vívido...

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