domingo, 14 de outubro de 2012

Malala

No Ocidente, os discursos anti-escola e anti-ensino (em geral, bem acolhidos) são tão antigos quanto a escola e o ensino. Muitos deles têm sido, e continuam a ser, veiculados por intelectuais de nomeada, incluindo-se nesta categoria pessoas com responsabilidades pedagógicas. Algumas delas, não duvido, são movidas pelas melhores e mais honestas razões: pretendem que se corrijam erros, que se faça algo melhor para educar as crianças e os jovens. Nesse sentido, abanam as consciências, podendo conduzir a novas e mais adequadas possibilidades.

Mas, caso não se consiga passar da fase de contestação para a fase de (re)construção, traduz-se num exercício perigoso que pode ter consequências trágicas.

É em circunstâncias extremas que percebemos melhor o perigo: quando, em locais onde havia escola, elas são fechadas ou ficam sob a alçada de um sistema a que não se reconhece humanidade, sendo o ensino proibido ou manipulado por alguém sem escrúpulos. Não se trata de um cenário académico. Foi, vezes de mais, real e continua a sê-lo.

Isto a propósito do caso de Malala, uma menina que, por si mesma ou instruída por pais ou outrem próximo, diz que quer ir à escola para aprender. E vai. Isto num país em que tal é considerado ofensivo.

Ela diz desde muito cedo (não sei com que discernimento), e tem-no comunicado ao mundo, que a sua atitude a pode conduzir à morte, mas diz também que mais importante do que viver é aprender. O mundo falou dela e atribui-lhe prémios, mas isso tornou a sua situação mais delicada. Em sequência, e como em geral acontece, Malala foi atacada e, ao que li, corre perigo.

Talvez este caso não nos toque de modo particular, dada a distância geográfica que nos separa, mas seria de o aproveitarmos para pensarmos que, por razões religiosas, políticas, económicas, filosóficas ou outras, o Ocidente, tal como conquistou a possibilidade de "uma escola para todos" também a pode perder.

2 comentários:

José Batista disse...

Horrores da natureza humana. Que se multiplicam no espaço e se repetem no tempo.

Que futuro está reservado à humanidade?
Que futuro pode a humanidade construir?

Temos que trabalhar muito, ser humildes e estar atentos, e aproveitar a prudência de certas vozes...

A este propósito parece-me oportuna esta citação feita por Joaquim Letria (aqui: http://www.sorumbatico.blogspot.pt/):
"Fifty percent of people won't vote, and fifty percent don't read newspapers. I hope it's the same fifty percent". Gore Vidal

Ora, temos que valorizar e defender a escola, a escola livre, autónoma, plural e... (além do mais) responsável.

Para que todos aprendam a ler e para que todos possam votar, em consciência e em liberdade.
Então talvez os "taliban", de todos os tipos e de todos os lugares, se reduzam à mais ínfima das minorias...

De outro modo, que futuro?

José Batista disse...

Boa notícia, acabada de ler:

"A jovem ativista paquistanesa vítima de um atentado dos talibãs na terça-feira foi transferida hoje para o Reino Unido para aí prosseguir a recuperação das lesões sofridas, informou hoje em comunicado o Exército do Paquistão.

A mesma entidade indicou que a decisão foi tomada em coordenação com a família da menor, de 14 anos, e que Malala se encontra livre de perigo e recupera em condição estável.

A jovem foi transportada num avião da família real dos Emirados Árabes Unidos."

@ Agência Lusa

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