sexta-feira, 13 de julho de 2012

O OVO “PERDIDO” ENTRE AVES E DINOSSAUROS.


Fósseis de ovos da nova espécie Sankofa pyrenaica encontrados na Catalunha.

Crónica publicada primeiramente na imprensa regional.

Quem é que nasceu primeiro: o ovo ou a galinha? 

Não querendo esgravatar esta pergunta redundante, um facto é o de que a observação e análise de um dado ovo permite hoje identificar a espécie que o gerou.Essa identificação baseia-se na observação da postura de determinado tipo de ovo por parte de indivíduos do género feminino de uma certa espécie. 

Diga-se, a propósito, que se designam por ovíparas as espécies cujo “embrião se desenvolve dentro de um ovo em ambiente externo e sem ligação com o corpo da mãe”. As aves, e uma maioria de espécies de répteis, peixes, moluscos, insectos, e aracnídeos são exemplos de animais ovíparos.

Em relação às espécies extintas que se descobriu também serem ovíparas, a identificação do tipo de ovos com uma dada espécie é paleontologicamente efectuada a partir da correspondência entre ovos fossilizados encontrados junto de espécimes embrionários, juvenis ou adultos também fossilizados. Ou pelo menos por aqueles terem sido encontrados no mesmos períodos e estratos geológicos que as espécies que a eles ficaram associadas.

Como em muitas outras áreas do conhecimento, esta não está isenta de muitas questões por responder, dúvidas, fósseis que faltam para completar o grande puzzle da evolução. Há inúmeros elos perdidos, ou melhor e neste caso, ovos perdidos, necessários para robustecer as hipóteses em cima da mesa do paleontólogo. 

E uma dessas questões tem a ver com a identificação da espécie ancestral e comum às aves e aos dinossauros terópodes. Estes últimos incluem os dinossauros bípedes do Cretácico superior, como os hoje “populares e mediáticos” tiranossauros e Velociraptor.

O fóssil dessa espécie comum continua a permanecer incógnito entre algum sedimento, estrato geológico ainda não explorado. 

Contudo, o seu ovo deste "elo" poderá já ter sido encontrado. É essa a conclusão de um estudo publicado em Narço deste ano na revista Palaeontology. Nesse artigo, paleontólogos espanhóis da Universidade Autónoma de Barcelona e da Universidade Complutense de Madrid, apresentam as conclusões das análises de um conjunto de ovos fósseis encontrados na região de Montsec, perto de Lérida, na Catalunha. Todos os ovos são pertencentes a uma mesma espécie desconhecida de dinossauro terópode que terá vivido entre 70 e 83 milhões de anos atrás.

E o que é que isto tem de novo? É que estes ovos têm uma forma ovoide assimétrica, ao contrário de outros encontrados para dinossáurios  terópodes do mesmo período que apresentam uma forma simétrica!



Esquema comparativo da forma de ovos de diferentes espécies - de A a G ovos de Dinossauros - de I a P ovos de aves - H - Sankofa pyrenaica.

Ou seja: encontraram-se ovos que se assemelham aos das aves (do tamanho dos ovos das galinhas) mas que foram gerados por uma espécie ainda desconhecida de dinossauros terápodes.

E como é que os cientistas sabem que a postura foi efectuada por terápodes e não por aves? A análise da estrutura cristalina da casca aparenta-os mais à dos ovos de dinossauros (não avianos) do que aos dos das aves. Uma nova espécie de ovo com a casca do tipo da dos ovos dos dinossauros terópodes do mesmo período, mas com a forma ovóide assimétrica como a dos ovos das aves.

Assim, na falta do fóssil da espécie que os gerou, os ovos serviram aos cientistas para identificar a nova espécie, a que deram o nome de Sankofa pyrenaica, candidata a ser o um ancestral comum a aves e dinossauros.

Neste caso, bem se pode dizer que foi o ovo que “apareceu” primeiro!

António Piedade

5 comentários:

Francisco Domingues disse...

Ignorante destas matérias, mas sempre curioso e pronto a aprender, seja qual for o ramo científico, achei interessnte a notícia. Mas António Piedade sabe infinitamente melhor do que eu que é óbvio que a galinha existiu antes do ovo: o animal chega, por evolução, ao seu estado adulto e a sua Natureza ou genética leva-o a criar o seu próprio modo de reprodução para perpetuação da espécie. Certamente acontecerá o mesmo com os vegetais. Ou estarei enganado?!

José Batista da Ascenção disse...

Colocar a questão sobre quem apareceu primeiro, o ovo ou a galinha,

é uma brincadeira, um jogo de palavras.

É o mesmo que perguntar: quem apareceu primeiro a mãe (humana) ou o

bebé (humano)?

Ou seria o mesmo que perguntar: quem apareceu primeiro a planta de

milho ou a semente que a originou?

A vida na Terra, a única que conhecemos, evoluiu a partir de seres

muito simples, agregados de moléculas no interior de membranas

simples que reagiam entre si. Essas estruturas teriam originado

células muito simples, com metabolismo. Dessas células, em alguns

casos porque algumas delas "engoliram" outras que não digeriram mas

com que estabeleceram relações de benefício mútuo, originaram-se

outras mais complexas, com informação genética suportada em ácidos

nucleicos contidos num núcleo - as células eucarióticas.

Estas células eucarióticas estiveram na origem de seres coloniais,

muito simples, com as diferentes células a colaborarem muito pouco

entre si (ainda há seres assim, como algas do género "Volvox", ver

google). De seres coloniais terão resultado, por evolução e seleção

natural das formas mais bem adaptadas, organismos multicelulares,

em que as células começam a diferenciar-se no desempenho de funções

específicas que asseguram as vias metabólicas e a fisiologia

própria de seres pluricelulares. Não sabemos exatamente como surgiu

a primeira célula digna desse nome e também não sabemos como

surgiram seres pluricelulares a partir de seres unicelulares. Mas,

podemos imaginar que, se tivéssemos um filme da evolução da vida

desde há 3200-3500 milhões de anos e o pudéssemos acelerar

suficientemente, veríamos uns seres vivos dando lugar a outros,

quer por eliminação de uns (os menos adaptados) e seleção evolutiva

de outros (os mais bem adaptados), de tal maneira que haveria

muitas formas vivas intermédias de outras (e intermédias de

intermédias, etc...), de tal maneira que nunca seríamos capazes de

dizer exatamente qual foi o momento exato em que se formou uma

galinha (tipicamente galinha...) ou um humano "tipicamente" humano

ou uma oliveira "exatamente" oliveira, porquanto, as formas vivas

que "imediatamente" os antecederam e de que se originaram

provavelmente já se reproduziam, respetivamente, por ovos, de modo

vivíparo (gestação no interior do corpo da fêmea) ou por sementes.

Claro que recuando muito no tempo, todos aqueles seres vivos terão

um ancestral comum em que a reprodução se faria de modo comum a

todos eles...

Nas formas vivas, quer a diversidade quer os aspetos gradativos

são muito comuns e muito curiosos. Isso é válido para o conjunto da

"Biosfera", para cada espécie (em que cada caraterística é

normalmente variável, numa gradação que é mais ou menos extensa,

por exemplo a cor dos olhos nos humanos...) e mesmo para cada ser

vivo no decurso do tempo. Por exemplo: não somos capazes de dizer

qual é o dia, a hora e o minuto em que um bébé deixou de o ser e

passou a ser uma criança (não bebé), como não podemos dizer

exatamente qual o momento em que deixou de ser criança e já é

adulto, etc... E no entanto é fácil dizermos que cada humano que

chegou à velhice passou por cada uma daquelas fases...

Não sei se consegui explicar alguma coisa.

Foi o que me saiu, à pressa, e já com algum sono...

Mas achei interessante o comentário de Francisco Domingues.

José Batista da Ascenção disse...

No comentário que fiz anteriormente ficaram algumas inadequações/imprecisões. Assim:

Onde escrevi:
"Não sabemos exatamente como surgiu
a primeira célula digna desse nome e também não sabemos como
surgiram seres pluricelulares a partir de seres unicelulares",
Devia ter escrito:
"Não sabemos exatamente como surgiu
a primeira célula digna desse nome e também não sabemos como
surgiram seres pluricelulares a partir de seres coloniais".

E onde escrevi:
"Claro que recuando muito no tempo, todos aqueles seres vivos terão
um ancestral comum em que a reprodução se faria de modo comum a
todos eles..."
Devia ter escrito:
"Claro que recuando muito no tempo, todos aqueles seres vivos terão
um ancestral comum em que a reprodução se faria de determinada maneira, a qual evoluiria mais ou menos gradualmente para várias outras formas reprodutivas posteriores..."

Na parte final do texto talvez tivesse sido melhor opção falar apenas de diversidade sem referir os aspetos muitas vezes gradativos dessa diversidade, quer numa dada altura quer ao longo do tempo.

Aldrin Iglesias disse...

Quando criança eu já conhecia alguma coisa sobre evolução, então respondia que quem tinha nascido primeiro era o ovo. Afinal, um animal ancestral da galinha, durante a sua vida, não poderia evoluir em questão de horas e se transformar em uma galinha.

Abraços,
Aldrin Iglésias
Brasil

José Batista da Ascençao disse...

Caro Aldrin

Poderemos olhar as coisas assim:

Quer o corpo da galinha quer o ovo de que a galinha se origina são

estruturas biológicas de um mesmo ser vivo que resultaram de

processos de evolução mais ou menos acentuados, não necessariamente

desenvolvidos ao mesmo ritmo, no decurso do tempo, até se ter

originado a galinha que põe ovos de... galinha.

Não será relevante pretender determinar qual das estruturas (corpo

com aparelho reprodutor / célula reprodutora) precedeu ou sucedeu à

outra estrutura. Se o animal ancestral da galinha não evoluiu em

questão de horas para galinha também o ovo desse ancestral (ainda

não galinha) poderia não ser (ainda) um ovo de... galinha (até

porque essa ainda não existia...)

Agora, podemos admitir que as mutações que originaram a galinha

"típica" tenham ocorrido de modo algo rápido e simultâneo e tenham

ficado no material genético de vários ovos fecundados, de tal modo

que desses ovos se tenham formando galinhas e galos que, acasalando

entre si, seriam assim a modos que os Adãos e Evas dos galináceos.

Mas isto é já falar de evolução rápida e "pronta a vestir", não sei

se compatível com as probabilidades do acaso e com a paciência e

labor da "mãe natureza".

Engraçado: nunca pensei discutir com alguém, para mais em comentários num blogue de ciência, se o que apareceu primeiro foi o ovo ou foi a galinha; mas acho uma brincadeira gira, que não prejudica ninguém.

Obrigado Aldrin.
Um abraço.

Zé Batista

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