sábado, 19 de maio de 2012

No calor da cidade…



Um artigo publicado pela revista Tree Physiology revela que as árvores jovens crescem mais rapidamente no interior de cidades do que fora delas, uma consequência do factor ilha de calor urbano. Segundo este estudo as árvores plantadas em parques citadinos podem crescer até oito vezes mais rápido do que as árvores plantadas em parques florestais longe de cidades. Em cima uma fotografia de Nova Iorque vista do Central Park, o local citadino escolhido para o estudo publicado pela Tree Physiology (Crédito: Fritz Geller-Grimm).

O efeito ilha de calor urbano ocorre em todas as grandes cidades e outros centros urbanos. É provocado pelas cores escuras das estradas, outros pavimentos e coberturas de prédios, que absorvem a energia solar e irradiam calor. O calor irradiado por estas superfícies escuras faz aumentar a temperatura média das cidades alguns graus celsius em relação aos campos em redor. Na cidade de Lisboa, por exemplo, a temperatura média pode estar mais de 4.º C acima da temperatura das zonas não urbanas mais próximas.

Os autores do estudo decidiram avaliar de que forma o efeito de ilha de calor urbano de Nova Iorque afecta o crescimento do carvalho-americano (Quercus rubra), uma espécie comum em parques desta cidade. O nome latino desta árvore, Quercus rubra, que significa carvalho vermelho em latim, deve-se ao facto de no Outono as folhas tomarem uma cor vermelha. Para isso plantaram árvores de carvalho-americano em quatro zonas diferentes do estado de Nova Iorque: no Central Park (o maior parque de Nova Iorque), em duas zonas florestais da zona suburbana do vale do rio Hudson (rio que desagua em Nova Iorque) e no reservatório de Ashokan, situado a cerca de 160 km norte de Nova Iorque. Também foram criadas árvores em laboratório, imitando as condições de cada um dos locais escolhidos.

Após menos de um ano de crescimento, as árvores apresentavam grandes diferenças entre si. As árvores plantadas na cidade apresentavam oito vezes mais biomassa (massa total da árvore) do que as árvores plantadas fora da cidade. Para além disso as árvores da cidade detinham até dez vezes mais capacidade para realizar fotossíntese (processo que permite às plantas produzir oxigénio e glicose a partir de dióxido de carbono, sob acção da luz) porque tinham bastantes mais folhas do que as outras.

A análise das árvores que cresceram em laboratório permitiu confirmar que o factor mais importante para a diferença de crescimento das árvores foi a temperatura. As árvores que cresceram num ambiente com maior temperatura tinham mais biomassa e maior número de folhas.

Pela análise das árvores que cresceram em laboratório, os investigadores descobriram ainda outro factor importante para o maior crescimento das árvores citadinas, embora não tanto como a temperatura. E por incrível que pareça esse factor é a poluição do ar! Sob o efeito da luz solar e das temperaturas mais elevadas da cidade os gases e poeiras libertados pela queima de combustíveis feita por carros (e não só!) reagem entre si, levando à formação de “espécies de azoto” que funcionam como fertilizante das árvores citadinas.

Nova Iorque tem cerca de 5,2 milhões de árvores, das quais 25 000 só no Central Park. Os resultados apresentados por este estudo auguram um bom futuro para as árvores de Nova Iorque e para as árvores de todas as cidades do Mundo, o que são boas notícias numa altura em que o número e o tamanho das cidades no Mundo estão a aumentar.


Margarida Milheiro

Nota: Texto adaptado do original, que pode ser encontrado no blog “Ema não é uma avestruz”, escrito sob o pseudónimo de Rita Robalo Sobreiro.

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