terça-feira, 8 de abril de 2008

Escola, igualdade e diferença


Vale a pena ler

Título: Escola, igualdade e diferença
Autor: Joaquim Pires Valentim
Edição: Campo das Letras, 1997 (115 páginas)


Há livros sobre educação que, pela importância das ideias que lhe servem de mote e pelo modo como são debatidas, devem ser lidos e relidos. O livro acima identificado, da autoria de Joaquim Pires Valentim, professor da Universidade de Coimbra, está nesse grupo.

Apesar de ter sido publicado há onze anos, os quatro capítulos que o compõem, mantêm toda a actualidade. São eles: (1) O nascimento da escola obrigatória; ideologias e transformações culturais; (2) Modificações nos discursos científicos dominantes e explosão escolar; (3) Democratização do ensino: processos e representações; (4) A deslocação do tema da igualdade para o da diferença.

A clareza da escrita e a discussão pouco convencional de ideias pedagógicas correntes faz deste pequeno livro um documento de referência para quem se interessa pela identidade e funções da escola.

Da conclusão deixo o seguinte excerto:

“Temos pedido sempre muito à escola: que ajudasse a manter a ordem nas cidades, disciplinando os espíritos e os corpos; que permitisse a todos o ideal democrático da igualdade entre cidadãos; que compensasse as desvantagens sociais ou que corrigisse a lotaria da natureza; e agora, entre muitas outras coisas, que, respeitando as diferenças individuais, promova o mérito e o talento de cada um, o desenvolvimento integral da personalidade dos alunos, valorize as diferenças culturais e combata as pulsões xenófobas. A questão é saber se o pode fazer. E a distância entre o que temos esperado da escola e aquilo que realmente tem sido obtido através dela talvez se possa constituir como um bom guia de trabalho.
É verdade que a escola não é redutível a uma mera agência de promoção social. Aliás, nunca o foi (…). Mas esse foi sempre, e mantém-se ainda, um dos grandes mobilizadores, quer em termos ideológicos, quer em temos das representações dos seus utentes e das suas estratégias de escolarização, mesmo quando as funções que lhe são atribuídas procuram valorizar outros aspectos educativos numa época em que, manifestamente, a escola também já não pode garantir empregos posteriores.
Face à forte valorização ideológica e à demagogia igualitária que a tem acompanhado desde o seu ínicio, sabemos hoje que a escola, de facto, não chega para fazer mudar a sociedade, abolindo as desigualdades sociais. Mas pode mudar bastante a vida das pessoas ao modificar as oportunidades que se lhes abrem ou fecham e aos fornecer-lhes instrumentos cognitivos, ferramentas de entendimento e de participação nas decisões políticas e nas transformações sociais. Fornecendo-nos instrumentos de intervenção no mundo em que vivemos, de entre os quais a compreensão dos processos histórico-sociais pelos quais cada cultura se constrói e se afirma a si própria como única, fazendo desse arbitrário um universal, não será, seguramente, um aspecto menor.
E, por último, convém não o esquecer, a escola é ainda um dos veículos prioritários na abertura de novas possibilidades de mobilidade social, mesmo que de um modo bem mais modesto do que o faziam crer alguns discursos dos finais do [século XIX] e do início [do século XX]”.

2 comentários:

Fátima André disse...

Um livro bastante actual e que valeria mesmo a pena ler, mas que está esgotadíssmo. Uma reedição era uma boa opção editorial... porque não propô-la?

Anónimo disse...

......... pois.. e?

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